Fotografar, raspar, cortar, desfiar, rasgar, desenhar
bordar, pintar, dobrar, compor
debruçar-se lentamente por superfícies
esperar por um sopro de luz
por uma fresta do tempo
tatear e penetrar
desorganizar as reentrâncias da forma
emaranhar-se e perder-se
na rede frágil de fios
de luzes e sombras
mergulhar em suas encostas
na dobra silenciosa,
subverter a matéria
na composição intensa
criar inominável forma
desentranhar tempos
umedecer o olhar
ofertar ondas sonoras
ondulações, intestinos e entranhas
intimidade que desafia as cores
evanescências, danças de transparências
traços e linhas a bordar superfícies de luz e fogo
convidando delgados corpos a dançar
horizontes em promessas fluidas líquidas
bailados entre fogo, farpas e raspas
dança do silêncio
linhas de força conectadas umas às outras
não buscam uma forma
buscam encontrar vizinhanças
árvores entre mulheres
mulheres entre plantas
fragilidade entre vida
processo de criação sempre inacabado
é um movimento vivo
contínuo no fluxo
transformador da própria obra
tudo varia e a vibração é sempre vegetal
devir-planta passa pela linha tênue
que mistura formas e produz sensações
não há separação entre vida e obra
há contágios vegetais
segredos vegetais
Poema coletivo
Alik Wunder, Marli Wunder, Susana Dias,
Alda Romaguera e Amanda Leite